Maré Cheia


Na noite
em que tua voz cintilou
por entre tantas outras vozes
senti
os fogos de artifícios
explodirem na tua pupila.


Tornei-me astro
em teu sistema
num ponto qualquer
que me refletia.


Na velocidade
do pulsar das minhas veias
percorri teus pensamentos
e por alguns breves momentos
me senti completa,
plena,


-como onda voraz
que se eleva
na fúria da maré cheia-
E me lancei
na incerteza de ser flor
ou teorema.

No barulho das sandálias descalças
pelas poças d´água
depois do avanço do mar

Dos respingos
de brisa salgada
que paralisava a vida
em contato com o ar


Fui brisa
ou vento alísio
feliz por ser quem sou

Assanhei teu cabelo
roubei um pouco do teu cheiro
e meu cais serenou.




(Jessiely)

Te guardo aqui



Parada
Não sou areia
Nem ventania
Sou como onda
Já rebenta
Em teu olhar

Paraíso?
A inércia
Dos minutos ritmados
Com o bailar
Dos teus cabelos
Vento manso
Espuma branca
Mar bravio
Ainda trago
Tuas marcas
Em meu espelho.

Sabe-se lá
quantos
monstros
marinhos
perderam-se
Nas vagas
Que insistimos
Em atravessar.

Terra firme
Não tão firme
Quanto tua voz
escondida
Sob seixos,
Sob relva
respingos
salgados
Que se misturam
Ao vinho
No silêncio
________[da espera].

Minha voz
perdida
Na tua
Onde o mar
De ambos os lados
Chora e lança-se
Entoando cânticos
As deusas nuas
Porém tristes

- eu canto
apenas
Para agradecer
Que tu existes-

Dorme em seu leito
Vis tesouros
naufragados
De tantos navios
Que passaram
E eu não vi.
Na terra firme
Vive meu anjo
barroco
De tão
embriagado
Em seu vinho
barato
Nem desconfia
Que o observo
A dormir.

Enquanto
As sereias nuas
enfeitiçam
Os canoeiros
Eu te guardo
Aqui.



(Jessiely)

Tela de Monet


Sinto
Quando te olho
Que somos
Tal qual
Uma tela
De Monet.

De perto
Somos pingos
E respingos
Misturados.
matizes
embriagados
Tornando o concreto
(des)concreto

De longe
Se nos olharmos
veremos
Que somos
desenho
Que o destino
pintou
Certo.

Uma bela tarde de Sol
Uma ponte que cruza o jardim
Um canteiro
Rasgado a um canto*

Teu sorriso
Cheirando a Carmim
perdido
Entre flores
machadas
Minhas mãos que
Desenham tuas mãos
Brincando com
A sombra das calçadas
Tudo isso passaria
fugaz
Se não fôssemos
pintura
arraigada

Sim,
Tenho ainda mais
certeza
Somos tela nova
Ainda escorrendo
A tinta molhada
Somos mais que desenho perfeito
Somos pingos
pingados
No peito
De algum artista
bêbado
Da madrugada.

(Jessiely)

Immortale


Enquanto as horas
desenrolam-se
Em sua teia brilhante
De cadeias
seqüenciais

Eu raciocino.

Calada
Produzo pensamentos
Escandalosamente altos
Que projetam ao
Meu corpo
Todos os sons inaudíveis
Do teu olhar:

Inaudíveis para os outros
- pobres mortais-
Que não conheceram
Um amor
Como esse
immortale

Indelével
Não perece
Nem sob a mais
Torrencial chuva
Ou o mais
Inebriante Sol
E ainda assim
Não deixa de ser singelo
Como uma mariposa
Ou como Libélula,
Ou ainda como Alga marinha
(ou ainda como a luz salpicada
Sob o arrebol).

Nem
Deixa de ser sutil
Como quem ama no escuro
E se satisfaz
Com os próprios segredos
Com as próprias juras
-Indescritível
Mundo-

(Os sons produzidos
calam-se
Não está exposto
A ninguém
Seu respirar
Noturno.)

E eis que caminho
desenhando
Tudo isso
Nos riscos
bagunçados
Das nuvens passageiras
Enquanto perdem-se
As horas
Em desacordo comigo

Queria o tempo
parado
O caminho
parado
O vento,
Esse atrevido,
Passando devagarzinho

E esse Céu
Que cismou em me ouvir
pensando
E conspirou
Com meus cabelos
Para me
desconcentrar

Perdeu seu tempo
Entre os meus fios embaraçados
Que esvoaçam,
Esvoaçam,

Sempre
Existirão teus dedos
Que os prendem
suavemente
Enquanto tua boca
Feita de mil desejos
E que contêm todos os
segredos
me
desvenda(rá)

E sempre
Terá esse ruído
Mudo
De horas
imortais
Que insistem
Em
Recomeçar.
(Jessiely)

Planar





Vejo-me
criança
E isso faz bem
Literalmente.

Finjo-me
bailarina
Com as mesmas
sapatilhas
Sentada ao lado
De um rio
- nascente -

Nascemos
Ora eu
Ora ele
Num afagar
de
ondulações

Desenho borboletas
Com asas
negras
E a alma
rosa
De leves paixões.

Não
Nem de longe
Sou a mesma
infante
Da qual me perdi

Sentada no
remanso
Sou apenas
Vestígio,
Estrela desastrada
Que caiu
Aqui

Desejo
Que se fez bendito
No passo
Solto e leve
Que me fez pairar

Agora
Sou corpo
inerte
que
Carrega o peso
De não
Saber planar.


(Jessiely)

Girassol no meu olhar



Ninguém avisou
Que os segundos
Magoam o peito
Que antes eu
Julgava indolor.

Ninguém
explicou
Que o girassol
Em meus olhos
chora
E cada lágrima
derramada
Carrega um pouco
Da sua cor

Mas eu descobri

Meu rosto manchado
De certo matiz
Marrom amarelado
Carrega a dor
Solene da saudade

E essa brisa
indomável
Que carrega a chuva
Afaga os meus cabelos
Traz gotas
De orvalho:
Pura maldade.

Me deixam
calada
Com canções imaginárias
Pedaços de solidão
Numa terça feira
À tarde.


(Jessiely)

Entre as mãos


Vejo a borboleta
Que perdeu o rumo
Entre as promessas
(des)feitas.

Resignada
Ao fim
Em idade tão tenra
Ela ainda
Oferece à vida
A cor intacta
Da alma.

Vã oferenda

A vida detém as cores
E almas
furtivas
Tão ou mais coloridas
Que a dela, sutil
E já desfeita.

Só não tem
O detalhe
infinito
Da paisagem
Que desenhaste
No foco
Do meu olhar

Nas mesmas ondas
Que todo mundo

Que beija a areia
E apaga os beijos
Ao retornar

Tu d(escreves)tes
Um caminho
traçado
contínuo
Ao segurar minha mão

Nossos passos
Não ficaram
Mas a vida
Tingiu meus pés
Despitou segredos
Confessou sua razão.

O amor deixa suas cores
A vida se esvai
Mas as marcas que o mar
Não carrega
A brisa traz
escondida
Entre as mãos.



(Jessiely)

Senhora da minha verdade


Permita que eu sente-me calada
De frente ao teu reflexo no escuro
Contar-te-ei a minha vida
Histórias desse meu mundo

E não me censure palavra!
Não me faça perder um segundo.

Eu sentia as flores do campo
Enquanto carregavam meus sonhos
Por entre veredas distantes
Onde se diluem os enganos

Eu sentei e chorei, é verdade!
De frente ao meu ser tão profano.

O rio que corria aos meus pés
Lavou toda a hipocrisia
Mudei de rumo e ventura
Fugi da cidade vazia

Por outros caminhos trilhei
Comigo não trouxe a agonia

Mas a poeira, cismei e não trouxe.
Abandonei-a ao léu, no passado.
No chão em que foi traçado
Os meus rastros de infelicidade

Atrevidamente

Cruzei as fronteiras do meu destino
Sou senhora da minha verdade.


(Jessiely)

Anjo crescido


Um Anjo crescido
Acrescido de asas
Sentou-se a beira da minha cama,
E me falou, sobressaltado:

- Levanta que já é madrugada,
Dissipa-se o orvalho!

Eu, incrédula
Observei seus olhos
Amendoadamente cor- de- mel
E perguntei entusiasmada
Se ele caíra do Céu.

Mas ao invés de falar
Ele sorriu, gentilmente,
E mirou ofegante
A janela distante
Do meu aposento dormente.

- Levanta, já é madrugada!
Dissipa-se o orvalho!
Mira que lá fora ao léu
Aguarda-te o amado.
Ansioso por tê-la,
E caminhar ao teu lado.

Assim sussurrando
Um tanto mais calmo
Arrebatou-se o Anjo
Do meu prédio ao alto.
Deixou-me sentada
Com o meu melhor sorriso,
Respirando calor,
Sussurrando e sentindo:

“- Estou indo meu amor
Antes que o orvalho dissipe
Orvalha meu corpo
Contigo.”

E sem asas, parti,
Pelos teus caminhos notívagos.



(Jessiely)

Véu de estrelas


Durante a noite
Preso no firmamento
Um véu de brancas estrelas
Desenha teu rosto.

Eu, inanimada
Apenas imagino
Se no teu infinito
(re)desenhas meu corpo.

No que penso
Defino
Entre tantas invenções

Um encontro
Um destino
(segundas) intenções

E fico
Sagradamente deitada
Sob o céu de antigos
Sonhos estelares

E se miras
Meu rosto
Do teu trono
Sobreposto
Sobre os anos-luz universais

Verás que sou pedaço
De tua constelação
Estrela
Que te alimenta de luz

Nada mais.




(Jessiely)

Teus Olhos Castanhos


O dia está seco


O Sol quase mata quem atravessa o leito seco do rio.
(caminha-se por toda a extensão rachada e marrom-acinzentada do que antes fora um límpido rio azul).

Os transeuntes apressam o passo.

Param debaixo dos Umbuzeiros como se quisessem retomar as forças para persistir na caminhada.
Recorrem às sombrinhas.
Algumas senhoras abanam as saias, na esperança que algum vento atrevido diminua-lhes o calor.

E necessitam. O calor está de matar, lá fora.

Eu aqui vejo tudo pela janela, debruçada sobre uma brisa que vem não sei de onde.

Porém, se teus olhos castanhos me fitassem e me pedissem para ficar alheio a tudo e te admirar na calçada.

Eu ficaria sob o Sol a pino.

Teria frio hoje.

(Jessiely)

Imaginando





E se não houvesse os caminhos,
Onde perco o que procuro?

E se não houvesse a mentira,
A dor, o absurdo?

E se não existisse o porém,
O por quê, o inexplicável?

Ou a dor que me persegue?
Ou o medo do acaso?
Ou a tristeza... A solidão?

E se não houvesse a saudade?
Que machuca, dilacera.

E se não houvesse a fome,
Naquela maldita viela?

E se eu não pudesse reinventar-me,
Ter ilusão?

E se não houvesse isso tudo...
Para que serviria a minha imaginação?

(Jessiely)

Canção.


Canção.



O caminho imperfeito
Eu sigo calada
-por fora, ao menos-.

Por dentro do peito
A canção se repete
desbravando
as
ladeiras

No meu corpo inerte.

E canto tão alto
Que a canção ressoa
Por olhos, ouvidos.
Na pele, na boca.
Usurpando os sentidos
Da tarde cabocla.

Mas, ninguém me ouve.
Se grito calada.
Se o que me cadencia,
É tua batucada,
Que dentro de mim
Acomoda, se espalha.

Tua voz ressoa, menino!
Devasta.
Teu canto no brilho
Do olhar
Fascinou.

Faço-me ouvinte,
Cantante,
d
e
s
g
o
v
e
r
n
a
d
a.

Por dentro deliro
Os meus descaminhos
Tua mão ritmou.

(De tanta voz tua
E tanto gesto teu
E tão meu,
No fim.)

Nossa canção,
Perfeita de gestos
De alguns traços sérios
Roubados por mim

Me en (cantou).



(Jessiely)