Tempestades



*




Cacos de vidros,
companheiros fiéis
de jornada,

Fizeram da outrora estrada,
iluminado campo
de flores vítreas

Os pés, acostumaram-se,
e já caminham
por ódio, rancor
ou quiçá,
por mera
cisma.

Nuvens, arrebatadas
numa cúpula,
chovem granizo

Em rajadas
de dor e medo

Minha pena,
de morte,
perdida,
rabisca à força
nas rochas
em estilhaços

Como se a angústia
fosse tinta...
ou brinquedo

"Inspirem-me,
ó raios ,
que gritam ao longe
nos velhos dezembros
dos meus antepassados!"

Eis que
minhas palavras ainda terão asas...
alçarão meus sonhos despedaçados.




(Jessiely Soares)

Deus dos Sonhos



*


Se te esculpo
na areia
toda noite...
De que me vale,
se o vento na manhã
sempre te leva?

Se te tinjo
com tinta óleo
na madrugada

A noite passa,
e a moldura
se esfacela.

Meus desejos
se amontoam
pelos cantos.
Meus cantos
se amontoam
nos desejos...

Faço,
tinjo,
declamo.
Lanço a nossa
sorte
ao som do realejo

Entre surtos de desventura
desses que ninguém
nunca previu.
No deserto
da minha cama
tenho medo

Morfeu não
serve,
nem mesmo,
pra esquentar
meu corpo frio.


(Jessiely Soares)

A mesma solidão



*

o que resta dos desenhos na areia
quando o vento vira furacão,

são retalhos de alguma saudade
espalhados em cacos revoltos no chão.

O que rasga o peito a punhal
quando a lágrima cismada entala e não cai,

são gritos recém paridos de uma artéria triste
que se contorce e faz

o medo ressurgir regurgitando espíritos
desfazendo a paz

E a lua que jaz serena
não sente o pânico a me assaltar

Derrama sentada e sonolenta
brancos raios cheios rasgados pelo ar

Finge tranquilidade deixando-se imensa
na amplidão

Mas enquanto suspira estrelas
tentando inspirar algum bêbado ou alguma canção

Repensa a vida inteira
e queixa-se também da mesma solidão.


(Jessiely)