Vidraça Escura






Eu fui uma menina triste
Daquelas que só existe
Por trás de uma vidraça escura
Em uma cidade qualquer
Esquecida em qualquer rua.

Eu tinha um olhar triste
Minha mãe não se poupava em nada:
Eu tinha as bonecas mais lindas
E a bicicleta mais cara.
O que eu não tinha era simples:
Faltava sossego em casa.

(Brigas, madrugada,
Gritaria ,Vizinhança,
corria, acudia :
- Cadê o meu irmão ? Ele ainda é criança !)

Não tinha vontade de sair
para não ouvir o que diziam:
"-Pobre menina, tão pequenininha."
(Meu sorriso,
Era reservado às bonecas,
elas sempre me entendiam.)

E entre carrosséis.
Brinquedos, Natais,
Sonhos insanos;
-E o medo do vidro quebrado
Ao ver papai embriagado
No meio da madrugada,
e meu irmão pequeno
chorando-

Mamãe persistia, explicava
“Existe algo além da dor
- Mundo além da nossa casa –
Deus nos está cuidando"


O tempo arrastado,
reticente,
Foi caminhando
.
.
.
Vagarosamente
.
.
.
Passando.

Cresci. Finalmente.
Os gritos agora já não podem me alcançar
Tenho o dia ocupado:
Trabalho, Família.
À noite chego tranqüila
Ansiosa para descansar

Mas, às vezes...
Meu sorriso aflito nervoso
Volta em meus sonhos
Revirando meu passado
-Me vejo criança, sentada, sozinha,
em qualquer cantinho afastado
sem muitas amigas,
vazio ao meu lado...-

E pela manhã
entendo o que sonhei
Quando miro o espelho...
-Tenho olhos vermelhos
E deixo na cama
Um travesseiro encharcado-.

Percebo:
O futuro chegou
Porém ainda trago
Um coração assustado.


(Jessiely)

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